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Brainworms - as músicas que não saem da cabeça


Sabe aquelas músicas que colam e não saem da nossa cabeça? O neurologista Oliver Sacks, em seu livro Alucinações Musicais (2007), aborda esse fenômeno trazendo relatos de pacientes que se sentiam "perseguidos" por músicas, pois eles gostariam de parar de pensar em uma música específica e ela tocava sem parar, em um constante loop dentro de seus cérebros. Sacks nomeia essa situação de Brainworms (vermes do cérebro) ou Earworms (vermes do ouvido), e os define como uma repetição ecoante, automática ou compulsiva de tons ou palavras (então pode acontecer tanto com canções, quanto com música instrumental).


Eu já passei por essa situação diversas vezes e consigo encontrar um padrão: se eu estiver muito cansada ou estressada, existe a tendência de músicas inteiras, trechos ou motivos musicais ficarem "colados" na minha mente e interferirem nos meus pensamentos e funcionalidade (sim, porque me deixam mais irritada e com dificuldade para conseguir descansar e desconectar os sons). Lembro claramente de uma situação, ainda na faculdade, onde eu deveria estudar os motivos das nove sinfonias de Beethoven (cada sinfonia tem 4 movimentos e cada movimentos tem o seu tema e variações). Tive uma overdose desse compositor que é um dos meus preferidos, ouvia alguns movimentos inteiros na minha cabeça, inclusive enquanto estava dormindo. E o mais interessante é que parecia ter um botão de Repeat acionado, pois quando a música terminava, ela começava novamente. Essas músicas são complexas e eu não sou detentora de uma memória invejável (pelo contrário, minha memória já foi testada e está dentro do esperado para a minha idade), mas elas ficaram grudadas e não queriam sair dali.


Outro exemplo que eu vivenciei foi após um Festival de Inverno da UFSM, um festival de música onde ficávamos uma semana em Vale Vêneto (quarta colônia de imigração italiana, na região central do Rio Grande do Sul - Brasil). Além de aulas e apresentações de música das 8h da manhã às 8h da noite, paralelo a esse encontro, acontece a semana italiana, então as ruas ficam repletas de temas musicais italianos (ouçam la Bella Polenta, Tarantelas e Mérica Mérica, para terem uma ideia). Quando estava voltando para casa, pedi para o meu pai desligar o rádio, porque eu não aguentava mais ouvir músicas italianas, mas, para a minha surpresa, o rádio estava desligado!


Essas situações acontecem atualmente, também. A mais recente foi com a música da Dona Aranha. Várias crianças pediam essa música durante a semana, e quando eu voltava para casa, seguia ouvindo a minha voz cantando essa música sem parar. Mas, conforme explica Sacks, os brainworms costumam ser estereotipados e sumirem com a mesma facilidade com que aparecem (o chato é que às vezes demoram dias funcionando em segundo plano). Como a música no cérebro tem correlatos com áreas visuais, o autor faz um paralelo com quando temos resíduos de imagens que vimos anteriormente (memória visual e que pode ser de extrema clareza em alguns indivíduos) e de forma muito intensa e relata que quando fica muito tempo focado em imagens de EEG (EletroEncefaloGrama), vê as linhas pelas paredes, mesmo elas não estando realmente ali.


E por que isso acontece, afinal? Nós, humanos, somos extremamente conectados com a repetição, com a rotina. Temos prazer em atividades repetitivas e aprendemos a partir delas. Isso nos causa recompensa, a familiaridade é prazerosa. Mas, da mesma forma, isso se torna uma vulnerabilidade, pois repetições excessivas (e aí cada um tem que saber onde está o seu limiar) levam a essas "alucinações", a esses pensamentos repetitivos (musicais ou não) que são cada vez mais ativados, conforme tentamos parar de pensar neles.


E vocês, já passaram por uma situação com brainworms? Ela foi musical ou com outra situação? Conta aí nos comentários!


Referência: Sacks, Oliver. Alucinações Musicais. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, 360 p.

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